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Braços quebrados e corações partidos. por Glória Furman



Quando você ouve me dizer que nós não deveríamos depositar nossa esperança em situações terrenas, mas deveríamos depositar nossa confiança em Cristo somente, isso vem de um coração que se partiu por confiar em coisas que não satisfazem.

Quando eu estava gravida da nossa primeira filha, meu marido perdeu a maior parte das funções em ambos os braços por causa de uma doença genética dos nervos. Ele estava digitando em uma aula do seminário quando seus dedos começaram a formigar. O formigamento logo se transformou em dor. Ele começou a perder a motricidade fina, tal como abotoar a camisa, fazer barba, etc. Estávamos desolados com o fato de meu marido estar com dor constante. Na época em que o bebe nasceu, a dor se alastrou ate o cotovelo. Antes do primeiro aniversario da nossa filha seu outro braço foi atingido também. Enquanto isto, estávamos procurando qualquer solução física disponível a nós naquele momento.

Pessoalmente eu estava otimista, tomei cada comentário positivo que fizerem como garantia de Deus. Acho que estava muito esperançosa de que a medicina moderna tinha uma solução para nós […] no entanto não demorou muito para que a depressão caísse sobre a minha família como um deslizamento de terra.

Meu marido tinha acabado de passar por uma cirurgia bem-sucedida em ambos os cotovelos para liberar os nervos comprimidos e estava se recuperando muito bem. Estávamos em êxtase com o fato de que, finalmente, ele poderia começar a melhorar fisicamente e ser curado de uma vez por todas. Naquele verão, estávamos prontos para nos mudar para o exterior e começar o trabalho de implantação de igrejas, de modo que vendemos todas as nossas coisas (exceto nosso livros), fizemos algumas malas de roupas e organizamos os preparativos para irmos ao ameno deserto da Península Arábica.

Uma vez aqui, tudo estava indo conforme o esperado com a fisioterapia, ajustes de cultura e todos os outros desafios que sabíamos ter de enfrentar. O que não esperávamos era que a condição física do meu marido se deteriorasse ainda mais. Por algum motivo que desconhecemos, dentro do período de uma semana após dirigir intensamente, em um estacionamento lotado, a dor ardente, lancinante, estava de volta em seus braços. A dor não estava aumentando gradativamente como antes – desta vez estava de volta mais agressiva do que nunca.

Deus, onde o Senhor está?


Não consigo sequer começar a descrever como essa experiência foi alarmante. Nossa filha mais velha tinha, então, dezoito meses de idade e começou a ter pesadelos que a arremessavam para fora de se seu colchão, que ficava no chão. Eu a segurava enquanto ela se jogava, se virava e se esforçava para dormir. Estava grávida de nossa segunda filha e comecei a sentir fadiga extrema, que durou todo o segundo e terceiro trimestre. Tudo isso estava acontecendo em meio ao estresse da transição de culturas e da tentativa de aprender a viver em meio a uma nova língua. Quando acordávamos pela manhã, orávamos par ao dia passar rapidamente, e, quando vinham as noites, eu assistia meu marido insone andar de um lado para o outro, em dor agonizante, enquanto eu, deitada na cama, enjoada, orava para que a manhã surgisse logo.

Em momento de clareza espiritual, no meio daquele deserto, cantava mentalmente, repetidas vezes, estes versos de um hino querido:

Minha esperança está em nada menos

Do que no sangue e na justiça de Jesus […]

Foi a esperança do Evangelho, e o Evangelho somente, que nos sustentou durante esse tempo. E é a esperança do Evangelho que nos sustenta até hoje. Nossa situação física se aliviou um pouco; assim como, tendo morado neste país por vários anos, já aprendemos a viver muito bem. Mas meu marido ainda sente dor. Esse testemunho da fidelidade de Deus não tem um arco de fita bem amarrado como os dizeres “e nós todos vivemos felizes para sempre, e Deus respondeu às minhas orações do jeito que eu pensei que ele faria”.

Mas de cinco anos depois, ainda sou a única cuidadora física de nossos três filhos. Em alguns momentos, ao longo destes últimos cinco anos, também fui a cuidadora física do meu marido. Às vezes, quando suas dores nos nervos pioram, ou quando ele está se recuperando de uma cirurgia, preciso ajuda-lo a tomar banho e vestir-se, abrir as portas para ele, alimentá-lo, leva-lo às reuniões e busca-lo delas, escovar os dentes passar fio dental, pegar os seus livros, tomar notas ou digitar e puxar para trás os lençóis da cama para que ele possa se deitar. Em uma ocasião, entrei no banheiro e o encontrei estirado no chão, com um galo na parte de trás da cabeça. Ele tinha tropeçado ao sair do chuveiro e bateu com a cabeça, porque não teve força nos braços para se segurar. Ele já havia caído pelas escadas antes. Aquelas de nós que têm braços saudáveis sabemos o quanto os usamos para manter nosso equilíbrio.

Posso ver a graça de Deus agindo em minha vida em meio a tudo isso. Durante vários anos, senti um medo sufocante de que Dave iria morrer em um acidente que poderia ser evitado se seus braços fossem fortes. Essa ainda é uma possibilidade, todavia, com o tempo, a graça de Deus tem me ensinado a não viver com medo do desconhecido. Morrer para mim mesma e servir meu marido também tem sido difícil, mas pela graça de Deus, agora, quando Dave me pede para ajuda-lo com alguma coisa, minha primeira reação não é cerrar, sem perceber, minha mandíbula para tentar sufocar as lágrimas amargas contra o muito que Deus nos deu. E sei que sua graça é suficiente para mim quando luto para servir.

Durante essas épocas que são particularmente difíceis para nós, nosso cotidiano é pontuado por um bebê chorando ou uma criança fazendo manha. É nesse momento que tenho que cantar em voz alta aqueles versos do meu hino favorito!

Glória Furman.


Extraído do livro: Vislumbres da graça. p. 171-175.

Publicado com permissão.



Para saber mais sobre o livro click aqui.



Gloria Furman é esposa, mãe, trabalhadora trans-cultural e autora dos livros “Vislumbres da Graça”, “Sem Tempo para Deus” e “A Esposa de Pastor” (todos pela Editora Fiel).






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