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O (des)caminho do movimento feminista evangélico

Atualizado: 2 de ago. de 2019

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por pr. Nelson Galvão |

Historicamente todo movimento social nasce como o resultado de um descontentamento em relação a uma condição social específica. Foi assim no séc. XIX com o movimento do operariado que lutava contra os abusos dos quais era vítima. Foi assim também com o movimento de libertação na África do Sul, encabeçado pelo partido CNA (Congresso Nacional Africano), que se colocou contra o Apartheid. O movimento pelos direitos civis e igualdade para os negros, durante a década de 1960, no EUA, também pode ser lembrado.


Um outro movimento social que está inserido nesse contexto de luta é o movimento feminista. Este nasceu como uma reivindicação legítima contra os abusos de uma sociedade que enaltece a masculinidade e coisifica a mulher.


É certo que muito ainda há por fazer. Mas é notório que décadas de luta do movimento feminista trouxeram alguns ganhos sociais marcadamente louváveis como: o voto feminino e a participação da mulher na política; o resgate da mulher enquanto sujeito social; o despertar da sociedade quanto à violência de gênero, entre outros.


Entretanto, todo movimento social tem seus descaminhos. A revolução francesa, que teve como lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”, em dado momento teve a sua “fase do terror”, onde houve o massacre de cerca de 40.000 monarquistas e Gerundinos (a oposição aos revolucionários). De igual forma, os movimentos pacifistas da década de 60, nos EUA, também tiveram os seus descaminhos quando se renderam à quebradeira e violência.


O movimento feminista na teologia cristã não foge à regra. Embora tenha sido uma força importante para a valorização da mulher, inclusive na igreja, ele tem seus descaminhos.


A Teóloga Rosemary Radford Ruether


Vejamos uma das mais importantes expoentes do movimento social feminista, a teóloga católica americana Rosemary Radford Ruether.


Ruether é filha de uma católica devota e educada na tradição do movimento feminista do início do séc. XX. Atualmente é docente do Seminário Claremont School of Theology.


Para Ruether o “androcentrismo” (visão do mundo centrada no homem) está enraizado no cerne do cristianismo. Veja o que ela diz:


“Partindo do pressuposto básico de que o macho é o modelo da pessoa humana e, portanto, também a imagem normativa de Deus, todos os símbolos, da linguagem sobre Deus à cristologia, à igreja e ao ministério são moldados pelo modelo dominante do macho como figura central, e a fêmea como subordinada e auxiliar”[1]


De acordo com Ruether, até mesmo Deus foi expresso de forma machista pela cultura judaico-cristã, que é marcada pelo “patriarcado”.


Com o intuito de redimir o cristianismo do suposto machismo, Ruether coloca a experiência da mulher como regra de hermenêutica máxima para a interpretação das Escrituras. Para a teóloga, a Bíblia é inteiramente influenciada pelo machismo e não é nossa autoridade final. Portanto, devem ser descartados todos os elementos machistas e o Texto Sagrado deve ser interpretado à luz do feminismo. Veja o que ela diz:


“A leitura feminista da Bíblia encontra na fé bíblica uma norma pela qual os textos bíblicos são submetidos à crítica […] Desse modo, muitos aspectos da Bíblia são explicitamente postos de lado e rejeitados”.[2]

Em outras palavras, o movimento feminista, com o objetivo de “desmasculinizar” o cristianismo, nega a inspiração, inerrância e autoridade das Escrituras.


Assim como Rudolf Bultman defendeu a desmitologização de Jesus, com o intuito de afirmar suas teses existencialistas, Ruether lança mão de uma “teologia feminista”, com o objetivo de efetuar uma suposta “desmasculinização” do cristianismo. Para Ruether, Jesus deve ser desmasculinizado. Veja o que ela diz:


“No momento em que a mitologia de Jesus, o Messias, ou o logos divino, acompanhado de sua imagética masculina tradicional, for eliminada, o Jesus dos evangelhos sinóticos será reconhecido como figura imensamente compatível com o feminismo”.[3]


O Feminismo Evangélico no Brasil


O movimento feminista no mundo tem se difundido e conquistado muitos adeptos nas igrejas evangélicas. Wayne Grudem (2009) informa-nos a respeito de uma pesquisa nos EUA. De acordo com a pesquisa, as denominações protestantes americanas de teologia liberal (negam a inspiração, inerrância, autoridade e suficiência das Escrituras) passaram a admitir as mulheres no pastorado nas seguintes datas: Methodist Church (1956), Presbyterian Church (1956- Norte – e 1964 – Sul), American Lutheran Church (1970), Lutheran Church in American (1970), Episcopal Church (1976).


Entre os evangélicos no Brasil, o movimento feminista tem ganhado força ao longo dos anos. A reportagem da revista Isto é, de 20/09/2013, intitulada “A força das pastoras”, informa que “na Igreja Batista da Lagoinha […] 44,6% do corpo pastoral é do sexo feminino […] Entre os metodistas, as mulheres representam aproximadamente 30% dos pastores – a mesma porcentagem é verificada entre os presbíteros da Igreja Anglicana”.


Quanto aos batistas brasileiros, em janeiro deste ano, a Ordem dos Pastores Batistas do Brasil aprovou um parecer que delega às sessões estaduais a decisão pela aceitação ou não de mulheres no pastorado feminino. Levando-se em consideração esta decisão e o fato de que já existem pastoras ordenadas na denominação, inclusive ocupando cargo na diretoria da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, pode-se dizer que, na prática, a referida denominação já aceita mulheres no pastorado.


O que crêem os feministas evangélicos


Os feministas evangélicos, também chamados de “igualitaristas”, acreditam que:

a) Ambos os sexos são iguais em seus papéis no lar. Assim, não existe uma tal liderança masculina na família.

b) Ambos os sexos são iguais em suas funções na Igreja. Dessa forma, o pastorado pode ser exercido por ambos os sexos.

A posição igualitarista pode ser encontrada no site http://www.cbeinternational.org, da Christians for Biblical Equality (em inglês).


Estratégias de luta do feminismo evangélico


Com o intuito de fazer valer suas ideias, o igualitarismo tem lançado mão das seguintes estratégias:


a) Recorrer a argumentos humanistas para a fundamentação de suas ideias

O principal argumento dos igualitaristas é de natureza sócio-cultural. O que se diz é: as mulheres são tão capazes quanto os homens e já ocupam os mesmos postos de trabalho que os homens, inclusive na presidência do país, porque não poderiam ser líderes em sua família e também na igreja?

b) Recorrer a “textos-prova” das Escrituras para fundamentar suas ideias

Inúmeros textos das Escrituras têm sido elencados para fundamentar a posição igualitarista. Os mais conhecidos são:


1. Homem e mulher foram criados iguais também em termos de função e papéis (Gn 1 e 2);

2. O governo masculino é resultado da queda (Gn 3);

3. A liderança de Débora (Jz 4);

4. As profetisas do Antigo Testamento, como Miriã e Hulda;

5. Igualdade de Gênero em Gl 3.28;

6. Febe era uma líder (Rm 16.2);

7. Existiu uma apóstola, Júnia (Rm 16.7)


Se esses textos forem analisados cuidadosamente, por meio de uma hermenêutica histórico-gramatical, será fácil perceber a fragilidade da interpretação bíblica dos feministas evangélicos.


Quanto a uma resposta adequadamente bíblica para as posições igualitaristas veja:


1. GRUDEM, Wayne. Confrontando o feminismo evangélico – Respostas bíblicas para perguntas cruciais. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

2. _______________. O feminismo evangélico – um novo caminho para o liberalismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

3. Mark Driscoll: “Mulheres no ministério”

4. Augustus Nicodemos: “Ordenação feminina: o que o Novo Testamento tem a dizer?” (http://solascriptura-tt.org/EclesiologiaEBatistas/OrdenacaoFeminina-Nicodemus.htm).


c) Relativizar textos das Escrituras


Existe uma clareza e objetividade nas Escrituras quanto ao ministério pastoral feminino. Entretanto, os feministas ignoram esse fato e, onde a Bíblia é clara, eles relativizam o texto. Nas palavras de Gordon D. Fee & Douglas Stuart:


“Trazemos nossa herança teológica, nossas tradições eclesiásticas, nossas normas culturais ou nossas preocupações existenciais às epístolas enquanto às lemos. E isso resulta em muitos tipos de seletividade, ou nos faz ‘contornar’ certos textos”[4].


É exatamente isso que os feministas fazem. Em textos como 1 Co 14.34,35; 1 Tm 2.12; 3.1-7 e Tito 1.5-9, simplesmente os relegam ao contexto cultural Paulino. Alguns chegam a afirmar que Paulo teria influências do machismo judáico ao ordenar que as mulheres não ensinem na igreja e não exerçam autoridade de homem. Afirmam ainda que Jesus teria se adequado aos ditames machistas da cultura judaica ao não ordenar mulheres ao colégio apostólico – pergunta: a quem Jesus queria agradar? Aos escribas e fariseus? Aos seus discípulos? Se as respostas para essas perguntas forem positivas temos aí um sério problema na cristologia.


A revista americana Christianity Today tem sido uma das principais defensoras do igualitarismo. Em recente artigo intitulado “The Gender Debates Come to Her.meneutics”, trás uma entrevista com proeminentes teólogos das duas posições, igualitarismo e complementarismo. O teólogo igualitarista é William J. Webb. Quando questionado a respeito de seu entendimento a respeito de 1 Tm 2.12, ele afirma:


“A proibição de 1 Timóteo 2:12 tem componentes culturais e transculturais embutidas dentro dela. A justificativa de que as mulheres são “mais facilmente enganadas” (2:13) era verdade a respeito das mulheres no mundo antigo. Mas hoje, isso não é assim: as mulheres compartilham igual conhecimento na universidade, faculdade, escola e seminário. A ideia de primogenitura de que Adão tem autoridade, em virtude de ser criado primeiro (2:14), dominou o mundo antigo. Mas isso não é tão proeminente ou uma justificativa convincente em nossos tempos. Nós não deixamos uma ‘herança dupla’ para o primeiro filho (como a Escritura ensina) dentro de uma sociedade igualitária”. (tradução livre).


Relativizando o texto sagrado, os feministas lançam mão de um laissez faire hermenêutico que é diabólico. Veja o que Paulo escreve aos Coríntios:


“Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano, nem torcemos a Palavra de Deus. Ao contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus” (2 Co 4.2).


Devemos lembrar que a Bíblia interpreta a Bíblia. Quando se estuda hermenêutica aprende-se que existe um processo de interpretação que passa por estágios (Osborne: 2009) como: contexto literário, estudos gramaticais, semânticos e sintáticos, contexto histórico, teologia bíblica, para então identificar o princípio eterno, que pertence a todos as culturas de todas as épocas. Nas palavras de Gordon D. Fee & Douglas Stuart (2011): “Um texto não pode significar o que nunca significou […] O significado verdadeiro do texto bíblico para nós é o que Deus originalmente pretendeu que significasse quando o texto foi falado/escrito pela primeira vez”.


Dessa forma eu pergunto: se os textos citados são meramente culturais, qual é o princípio para todas as épocas? Se esses textos são meramente culturais, porque Paulo se utilizou de argumentação supra-cultural (1 Tm 2.13,14)? Parece-me que os feministas seguem sem resposta.


O feminismo e o liberalismo teológico


Uma das críticas daqueles que não têm posição quanto a este assunto é: “Essa é uma briga irrelevante. Existem coisas mais importantes para nos preocuparmos”.


Dessa forma eu pergunto: para nós, protestantes, a autoridade das Escrituras é uma questão de menor valor? Talvez aqueles que não têm posição ainda não tenham percebido, mas a questão está relacionada à autoridade das Escrituras.


Vejamos o alerta de Wayne Grudem (2009), em seu livro “o Feminismo Evangélico – Um novo caminho para o liberalismo”:


“A aprovação da ordenação de mulheres não é o último degrau no processo. Se olharmos para as denominações que aprovaram a ordenação de mulheres, 1956 a 1976, vamos descobrir que algumas delas, como a United Methodist Church e United Presbyterian Church […] têm grandes contingentes pressionando para (a) a aprovação de conduta homossexual como moralmente válida e (b) a aprovação da ordenação de homossexuais. De fato, a Episcopal Church, em 5 de agosto de 2003, aprovou a indicação de um bispo assumidamente homossexual”.[5]


A partir da observação de um longo processo histórico nos EUA, Grudem (2009) aponta o caminho do liberalismo teológico:


a) Deixar de crer na inerrância da Bíblia; b) Aprovar a ordenação de mulheres; c) Abandonar os ensinos da bíblia sobre o homem como cabeça no casamento; d) Excluir os clérigos que se opõem à ordenação de mulheres e) Aprovar o comportamento homossexual como moralmente válido em alguns casos; f) Aprovar a ordenação de homossexuais; g) Ordenação de homossexuais para posições de alta liderança na denominação.


Perceba que tudo começou com a negação da inerrância das Escrituras. Esse é o ponto! O que está por de trás da aprovação, ou não, do ministério pastoral feminino é a autoridade das Escrituras. É aí que está o que chamo de “descaminho do movimento feminista evangélico”.


A autoridade das Escrituras


Sola Scriptura! Este foi um dos alicerces da Reforma Protestante do séc. XVI. Isso significa que as Escrituras são a nossa única regra de fé e prática; não é a Igreja, nem o Papa, nem os Concílios, Sola Scripturae.


Ao longo da história, os Batistas também creram assim e se posicionaram através de Confissões de fé. Veja o que diz a Confissão de fé de Londres, de 1689:


“O juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas devem ser resolvidas e todos os decretos e concílios, todas as opiniões de escritores antigos e doutrinas de homens devem ser examinadas, e os espíritos provados, não pode ser outro senão a Sagrada Escritura entregue pelo Espírito Santo. Nossa fé recorrerá à Escritura para a decisão final”[6].


Entretanto, desde o liberalismo teológico do Séc. XIX e XX – influenciado pelo iluminismo de Kant, Rousseau, Montesquieu e Voltaire – a autoridade das Escrituras tem sido contestada de variadas formas. Nos últimos tempos, a neo-ortodoxia tem afirmado que a Bíblia é inerrante somente em assuntos pertinentes à salvação do homem, não o é em assuntos de ciência e história.


Um dos principais expoentes da neo-ortodoxia hoje é Daniel Payton Fuller. Ele é filho de Charles E. Fuller, co-fundador do Seminário Teológico Fuller (1947), um dos seminários americanos onde hoje é permitida a posição feminista evangélica. Atualmente é professor emérito de Hermenêutica no Seminário fundado por seu pai, onde ensinou de 1953 a 1993.


Veja o que diz Fuller: “quando a Bíblia ensina sobre sua autoridade a ênfase recai sobre aquilo que faz o homem sábio para a salvação”.


Em seus estudos na Suíça, na Universidade de Basiléia, Fuller foi influenciado pela neo-ortodoxia do teólogo suíço Karl Barth. Ao retornar, na década de 1960, Fuller ajudou a direcionar o Seminário, que leva o seu nome, a abraçar também a neo-ortodoxia, com sua negação à inerrância das Escrituras e seu pensamento de que a Bíblia é inspirada somente em assuntos pertinentes à espiritualidade, mas não em assuntos de ciência e história.


Wayne Gruden comenta da seguinte forma a respeito do atual pensamento do Seminário Fuller em relação às Escrituras:


“Enquanto eu ainda estava fazendo curso de graduação na Universidade Harvard, ouvi advertências de que o Seminário Fuller estava comprometendo seriamente a verdade da Palavra de Deus. Embora essas advertências viessem de fontes respeitáveis como Francis Schaeffer, John Montgomery e daChristianity Today [Cristianismo Hoje], não acreditei nelas. Agora acredito!


Nenhum dos meus cursos [no Fuller] reforçou minha confiança na Bíblia. Ainda mais desoladora é a estreiteza mental: não tive nenhum professor que ensinasse a inerrância bíblica, nem mesmo como uma opção possível. Os alunos com quem converso não possuem nenhum conhecimento das grandiosas defesas da inerrância feitas recentemente por homens como E. J. Young, Ned Stonehouse, e Cornelius Van Til.


Estou preocupado com o Seminário Fuller, mas não tenho nenhuma proposta de solução. As cartas estão todas lançadas na direção de maiores concessões e comprometimentos. Os docentes parecem pensar que detêm a única solução possível; os que pensavam de forma diferente foram embora da escola. Mas, quanto a mim, quero um seminário que faça de mim um ministro da Palavra de Deus, não um crítico. Não tenho escolha, senão ir embora”.[1]


É a partir do entendimento neo-ortodoxo das Escrituras que Fuller escreve: “Quando a Bíblia ensina sobre sua autoridade a ênfase recai sobre aquilo que faz o homem sábio para a salvação” (Daniel P.Fuller).

Entretanto, a despeito da declaração neo-ortodoxa de Fuller, a Palavra de Deus é autoritativa. Nas palavras de Gruden:


“A autoridade da Escritura significa que todas as palavras da Escritura são palavras de Deus de tal modo que descrer ou desobedecer a qualquer palavra da Escritura é descrer ou desobedecer a Deus”[7].

Não querendo ser extensivo na argumentação a respeito da autoridade das Escrituras, basta-nos citar 2 Tm 3.15-17, uma vez que Fuller cita esse texto para o seu pensamento:


“Porque desde criança você conhece as sagradas letras, que são capazes de torná-lo sábio para a salvação mediante a fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra”.


Paulo escreve a sua segunda carta ao jovem pastor Timóteo para instruí-lo em como este deveria proceder na liderança da Igreja do Senhor. De acordo com o Dr. Carlos Oswaldo, o argumento básico dessa carta é: “Motivar Timóteo a assumir sua parte no ministério de Paulo suportando as provas do ministério com perseverança e pureza” (Pinto: 2008, p. 449).


Com isso em mente, percebemos que não é possível considerar o vs. 15 isoladamente, assim como o faz Fuller. Sim, as sagradas letras são capazes de tornar o homem sábio para a salvação, mas elas também são capazes de tornar o homem de Deus últil para toda a boa obra, porque “toda” ela é inspirada, e não somente partes.


A palavra “Escritura” (gr. graphe) ocorre 55 vezes no Novo Testamento e em todas as ocorrências se refere ao Antigo Testamento. Isso significa que, embora Deus tenha usado agentes humanos, as palavras do Antigo Testamento são inspiradas (gr. Theopneustos).


Conceito semelhante está em 2 Pe 1.20,21:


“Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo”.


Entretanto, Paulo também se referia aos seus próprios ensinamentos como inspirados. Em 2 Tm 3.14-17, Paulo inclui as duas fontes do conhecimento de Timóteo, quais sejam, “aquilo que aprendeste” (de mim- 2 Tm 3.14) e “as sagradas letras”, como inspirados. Em várias ocasiões, Paulo chega bem perto de chamar seus escritos de “Escritura”. De acordo com o que nos lembra John Stott a respeito de Paulo:


“Encaminha suas cartas para serem lidas nas assembleias cristãs, sem dúvida ao lado das leituras do Antigo Testamento (p. ex.: Cl 4:16; 1 Ts 5:27). Várias vezes ele afirma estar falando em nome e com a autoridade de Cristo (p. ex.: 2 Co 2: 17; 13: 3; Gl 4: 14), e chama a sua mensagem de “a palavra de Deus” (p. ex.: 1 Ts 2:13). Uma vez ele diz que, comunicando o que Deus lhe revelara, não usa “palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito” (1 Co 2: 13)[8].


Além disso, Pedro chama as cartas de Paulo de “Escritura”, no mesmo patamar do Antigo Testamento (2 Pe 3.15,16).


Dessa forma, entendo que Fuller – e esse é o mesmo (des)caminho do feminismo evangélico – está equivocado ao limitar a inspiração da Bíblia somente a assuntos pertinentes à espiritualidade, mas não em assuntos de ciência e história.


Conclusão


Procurei demonstrar que o igualitarismo representa um caminho para a negação da autoridade das Escrituras. Acredito que os argumentos em favor do igualitarismo levam a óbvia conclusão que as Escrituras possuem uma forte carga cultural machista; dessa forma, a Bíblia teria erros. Assim sendo, o feminismo evangélico tem acarretado em um grande desserviço para a Igreja de Cristo.


Penso que as mulheres têm um importante papel na família e na igreja. Conheço mulheres piedosas que têm desenvolvido um ministério maravilhoso, que glorifica o Mestre. Por outro lado, entendo que o papel da mulher não é igual ao do homem – nem por isso, é menor ou maior, como os feministas querem nos fazer crêr. Acredito que os papéis são diferentes e complementares.


A Igreja ao longo da história sempre sofreu pressões externas e internas para se adequar ao espírito da época. Diante disso fica o alerta de Francis Schaeffer:


“A primeira geração de cristãos que leva a igreja a um desvio de doutrina mudando apenas um único ponto-chave em sua posição doutrinária, e nada mais, pode observar por um tempo que a mudança não foi tão danosa. Mas seus seguidores e discípulos, na geração seguinte, adotarão a lógica de seus argumentos com muito mais ênfase e defenderão tipos de erro maiores”[9].


Nelson Galvão

Notas


[1] Miller e Grenz: 2011, p. 188

[2] Ibid: 2011, p. 191

[3] Ibid: 2011, p. 195

[4] Gordon D. Fee & Douglas Stuart: 2011, p. 89

[5] Grudem: 2009, p. 26

[7] Gruden: 2001, p. 33

[8] Stott, p.45

[9] Grudem: 2009, p. 19




Pr. Nelson e Simone são casados desde 1997 e eles têm um filho, o Mateus.

Nelson atua como diretor pedagógico do ministério Pregue a Palavra, como coordenador dos grupos do Pregue a Palavra de Cuba e Moçambique e como professor de História da Igreja (Escola de Pastores PIBA).

Ele é formado em História e Teologia, pós-graduado em Administração Escolar e mestre em Educação (PUC-SP). Atualmente cursa o programa de mestrado em Teologia do Novo Testamento, no Seminário Bíblico Palavra da Vida- Atibaia, SP.

Simone tem atuado como editora do site Mulher da Palavra, como coordenadora do Congresso Mulher da Palavra, no discipulado de mulheres mais novas, solteiras e casadas, auxiliando-as no entendimento da feminilidade à luz das Escrituras.


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